giovedì 18 giugno 2009

Saramago e o ensaio sobre a inveja

Verifica-se um fenómeno em Portugal que é muito específico deste ‘jardim à beira-mar plantado.’
Este fenómeno é intemporal e repete-se, à laia de ideia que, por via da ausência de bom senso, se transforma em mau hábito. Este mau hábito leva os portugueses a abaterem, desprezarem, desmotivarem e criticarem, destrutivamente, os seus pares que, através do mérito do seu trabalho e talento, emergem da ‘pasmaceira’ nacional e obtêm a glória e o reconhecimento internacionais em todas as frentes.
Um dos alvos preferidos desta tendência é José Saramago.
Este escritor, com a carrera brilhante que (quase) todos conhecem e que é lido em todo mundo e em todo o mundo aclamado, é detestado pela maioria dos portugueses. Naturalmente que a maioria que o detesta, é a mesma maioria que nunca leu uma única obra sua e é a mesma que, caso lesse, muito provavelmente e devido à falta de treino no âmbito da leitura, se perderia num dos primeiros parágrafos.
Seja a sua perspectiva sobre a Iberia, seja a sua opinião sobre os Isrealitas e o genocídio que perpetram, persistentemente, na Palestina, seja a sua visão sobre Jesus Cristo, seja a sua proposta de unir a Esquerda na candidatura à Câmara Municipal de Lisboa, Saramago tem que ser sempre, e apenas em Portugal, alvo de críticas destrutivas.
Mais recentemente e, dedicado à figura patética que governa a Itália, Saramago escreveu um brilhante artigo que se caracterizou por uma crítica mordaz aliada a um caústico, e por tal, resfrescante, sentido de humor, impossìvel de encontrar nas páginas dos jornaizinhos portugueses. Por isso mesmo é que José Saramago publicou o seu artigo no El Pais, um dos maiores jornais da Europa.
O ‘aqui d’el rei’ que se gerou na imprensa e blogosfera portuguesas contra o ‘moralismo’ a rudeza de Saramago, foi mais uma das manifestações da inveja lusa.
O português médio pode identificar-se com Cristiano Ronaldo, que é reconhecido internacionalmente porque tem jeito para o futebol mas que não sabe falar a sua própria língua; pode identificar-se com Tony Carreira – o emigrante retornado que subiu na vida graças à sorte e à imagem de ‘bom filho da vizinha do lado’-; a avaliar pelo número de vendas, pode identificar-se com as personagens dos livros de Margarida Rebelo Pinto e outros escritores que tais que escrevem sobre existências medíocres de Veras, Joões e Pedros que se cruzam e voltam a cruzar. Com esses sim. Eles estão à medida do nosso país. Poderiam ser qualquer uma das pessoas que vivem no nosso prédio, com que trabalhamos ou que encontramos no supermercado. Assim sim.
Mas um Nobel? E, sobretudo, um Nobel que diz aquilo que pensa, contrariando a abulia nacional os ‘paninhos quentes’ à portuguesa?
Assim não.
Mais vale defender o Berlusconi...Essa tal ‘coisa’ que afunda a Itália na xenofobia, na precaridade, no facismo e na ignorância, que gasta o dinheiro dos contribuintes nos seus devaneios de velho senil e que apresenta como solução ao desemprego feminino a prostituição aos homens de poder.
Os olhos do português médio reconhecem, mais depressa, como familiar um tipo como o de Berlusconi do que outro como o de Saramago.
Talvez, por tudo isto, Saramago prefira viver em Lanzarote, uma ilha árida e vulcânica que sendo a mais oriental das Canárias é, também, a mais próxima de Portugal mas que, felizmente, para Saramago e para os lanzarotenhos, não é território português.
Maia

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